28 de fev. de 2011

Salto

    A água ruge abaixo, correndo lépida a seu destino, que não poderia ser outro senão um lugar mais baixo, como é natural. Claro, nada mais natural, o rumo ao inferior, descendente, lenta ou rapidamente, não importa, mas sem se deter jamais, para baixo. E se por vezes sobe, isso nada mais é do que um contratempo, uma distração perante o inevitável. Se ao final de tudo, isso não fizer mais sentido, então estará bem assim. Então subir, descer, ir para qualquer lado, será indiferente.
    Mas agora, a que é chamada gravidade faz seu papel, e o escorrer serpenteante escava os desfiladeiros que trazem a vertigem pela sua mera contemplação. Mas a contemplação não basta, e a água convida com seu canto enfurecido de eras de trabalho paciente, resultando num sulco reverberante belamente esculpido nos tons multicolores das rochas. 
    Do alto, ela contempla a água abaixo. À distância, ele a observa e a segue. As vezes, o caminho os leva para cima, mas seguem, ambos, para baixo, como é natural. Ela o precede, e a água, em sua sabedoria, os precede a ambos. 
    É um longo caminho para baixo.